Um pôr -do-sol olhando de minha varanda!

Um  pôr -do-sol olhando de minha varanda!

quinta-feira, 28 de julho de 2011


                          Assunto: O ponto negro


Certo dia, um professor chegou na sala de aula e disse aos alunos para se prepararem para uma prova-relâmpago.
Todos acertaram suas filas, aguardando assustados o teste que viria.
O professor foi entregando, então, a folha da prova com a parte do texto virada para baixo, como era de costume.
Depois que todos receberam, pediu que desvirassem a folha. 
Para surpresa de todos, não havia uma só pergunta ou texto, apenas um ponto negro, no meio da folha.
O professor, analisando a expressão de surpresa que todos faziam, disse o seguinte:

- Agora, vocês vão escrever um texto sobre o que estão vendo.

Todos os alunos, confusos, começaram, então, a difícil e inexplicável tarefa. 
Terminado o tempo, o mestre recolheu as folhas, colocou-se na frente da turma e começou a ler as redações em voz alta.

Todos, sem exceção, definiram o ponto negro, tentando dar explicações por sua presença no centro da folha. 
Terminada a leitura, a sala em silêncio, o professor então começou a explicar:

- Esse teste não será para nota, apenas serve de lição para todos nós.
Ninguém na sala falou sobre a folha em branco. Todos centralizaram suas atenções no ponto negro. 
Assim acontece em nossas vidas. Temos uma folha em branco inteira para observar e aproveitar, mas sempre nos centralizamos nos pontos negros. 
A vida é um presente da natureza dado a cada um de nós, com extremo carinho e cuidado. 
Temos motivos para comemorar sempre. A natureza que se renova, os amigos que se fazem presentes, o emprego que nos dá o sustento, os milagres que diariamente presenciamos. 
No entanto, insistimos em olhar apenas para o ponto negro! 
O problema de saúde que nos preocupa, a falta de dinheiro, o relacionamento difícil com um familiar, a decepção com um amigo. 
Os pontos negros são mínimos em comparação com tudo aquilo que temos diariamente, mas são eles que povoam nossa mente.

Pense nisso!
Tire os olhos dos pontos negros de sua vida.
Aproveite cada bênção, cada momento que a natureza lhe dá.

Creia que o choro pode durar até o anoitecer, mas a alegria logo vem no amanhecer.

Tenha essa certeza, tranqüilize-se e seja FELIZ!

sábado, 23 de julho de 2011

O exagero que não educa
Gabriel Chalita

Pais explicam aos filhos que não exagerem na comida. Faz mal. Que não exagerem no banho. É contra o meio ambiente. Que não exagerem no tempo gasto na internet. Precisamos de relações reais. Não somos máquinas. Que não exagerem nas brincadeiras ou na bebida ou nas baladas e assim por diante. 

Filhos poderiam também dizer aos pais que não exagerem nas cobranças. Criança precisa ser criança. Precisa brincar como criança. Correr como criança. Errar como criança. É um exagero exigir que uma criança tenha agenda lotada com todo o tipo de atividade que, muitas vezes, o pai ou a mãe não conseguiram ter. 

O pai obeso quer que o filho seja um atleta e lamenta o fato de o seu pai não ter feito o mesmo com ele. Aulas de judô, tênis, natação, alongamento, yoga, musculação adaptada para criança, entre outros. 

A mãe com dificuldade em outro idioma quer que o filho aprenda ao mesmo tempo inglês, espanhol, francês e, se possível, alemão e mandarim. E justifica dizendo que, nessa fase, há mais facilidade para o aprendizado de outro idioma. 

O pai quer que o filho aprenda a tocar um ou mais instrumento musical. A arte é muito importante. Piano e violão são o básico. Quem sabe aprenda esses dois e mais violino e harpa. Harpa é bem interessante. 

A mãe acha que para o filho se desinibir desde cedo é bom ter aulas de teatro e canto. Isso ajuda a conviver melhor e a conseguir desenvolver a oratória, tão essencial para os nossos dias. 

E com todas essas atividades, é preciso encontrar tempo para terapias, as tradicionais e as alternativas para que os filhos vençam o estresse. 

Enquanto isso, os pais brigam exageradamente, trabalham exageradamente, reclamam exageradamente da vida, da sorte, da condição de casado, dos filhos que dão trabalho. E o tempo passa. 

O tempo da convivência vai se perdendo em exageros tantos. A infância vira uma fase de preparação para o sucesso, a adolescência também, e a juventude nem se fala. As cobranças vão trazendo uma carga absolutamente desnecessária. 

E o lazer? E o entretenimento? E as conversas sem finalidade? E as brincadeiras em família? E a contação de histórias? 

Brincar o dia inteiro e não estudar é tão exagerado quanto estudar o dia inteiro e não brincar. 

Ficar ao computador ou em frente à televisão o dia inteiro comendo é tão exagerado quanto não sair da academia ou do clube. 

É preciso encontrar o tão sonhado meio termo ensinado por Aristóteles. Sem exageros, e com serenidade, as escolhas podem ser decididas conjuntamente. As habilidades vão se desenvolvendo a partir de estudos e de brincadeiras, de cursos e de ócio. Tudo em família. 

A vida tem que ser vivida intensamente em cada instante. Não viver o hoje porque o hoje é apenas uma preparação para o amanhã; um amanhã que nem sei se vai existir, é um grande exagero! 



Texto publicado na edição de janeiro de 2011 da revista Profissão Mestre. 

Gabriel Chalita é deputado federal, doutor em Direito e em Comunicação e Semiótica, ex-secretário de Educação de São Paulo.

Empreendedorismo jovem: qual o seu lugar na escola básica?
     Iniciamos esse diálogo com uma problematização para a escola, e em especial, para nós, educadores: como os jovens podem fazer a diferença como coautores de uma cidadania planetária e qual o compromisso da escola básica com a formação plena de nossos estudantes? 
     Nos últimos trinta anos, as transformações sociais vêm se radicalizando e exigindo posicionamentos científicos e tecnológicos cada vez mais inovadores. A sociedade do conhecimento gera poder na medida em que constrói as relações de subordinação. Por essa razão, uma educação emancipadora se torna indispensável cada vez mais cedo. Não se pode esperar mais o término de um curso superior ou o ingresso no primeiro emprego para se pensar em empreender e inovar. A excelente formação acadêmica e tecnológico-profissional de nossos jovens continua a ser uma das exigências de sua educação plena, porém novas demandas estão se impondo como necessárias à inserção crítica e com autonomia no mercado de trabalho e colocando novos desafios à reinvenção da sua empregabilidade. O emprego, na ótica tradicional, já não dá conta das exigências de sobrevivência, de desenvolvimento sustentável, entre outras demandas da produção de uma sociedade digna, fraterna e justa.
     Problematizar sobre novas possibilidades de emprego e alternativas criativas de sobrevivência, que contribuam para o desenvolvimento das comunidades locais e de processos mais amplos, passa a ser responsabilidade de todos os educadores e profissionais que direta ou indiretamente participam da vida dos jovens no nosso país. Isso também vai fazendo parte da vida do próprio jovem, na medida em que constrói e/ou conquista autonomia.
     Este conceito precisa ser ampliado, relacionando-o principalmente com as categorias de autonomia, criticidade e criatividade, a partir dos ensinamentos de Paulo Freire. Precisamos estar situados no mundo como sujeitos construtores da história, pois viver intensamente o presente e empreender é iniciar a construção de um futuro provavelmente promissor.
     Eis um grande desafio a enfrentar! É importante considerar o empreendedorismo como uma oportunidade a mais para a inserção crítica e com autonomia do jovem no mercado de trabalho, como possibilidade de afirmação da sua identidade como ser humano. Isso pode torná-lo capaz de socializar ideias, de trabalhar junto, de inovar num processo colaborativo, de realizar-se em processos criativos de trabalho, rompendo com dependência dos padrões tradicionais de emprego. Empreender é ampliar uma visão de mundo, de si mesmo no mundo do trabalho.
     A ideia das novas formas de trabalho e, não exclusivamente de emprego, vem ganhando força entre diversos segmentos da sociedade. Nesse contexto, torna-se cada vez mais necessária a inclusão do tema “empreendedorismo/protagonismo juvenil” nos currículos da escola básica e da universidade, para que o jovem tenha o direito de ser educado para a mudança e não para estabilidade. A responsabilidade e o compromisso com essa formação incluem uma prática educativa dialógica que possibilite aos jovens “uma leitura crítica de mundo” e o reconhecimento de, como sujeitos históricos, podem ousar e intervir com autonomia no mercado de trabalho, participando da construção de um mundo melhor.
     Targélia de Souza Albuquerque é Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

quinta-feira, 21 de julho de 2011


Isso se chama amor...

Você surgiu como suave melodia trazida pela brisa; dilatou-se no
silêncio de minha alma e fez-se moldura em meu viver.
Isso se chama ventura.
Há algo em você que transparece num olhar, como estrela no céu
atapetado de astros e exterioriza-se num sorriso como canção tocada
na harpa dos ventos.
Isso se chama ternura...
Sem olhar, você me percebe; sem falar, você me diz; sem me tocar,
você me abraça...
Isso se chama sensibilidade.
Quando me perco em labirintos escuros, você me mostra o caminho de
volta...
Quando exponho meus tantos defeitos, você faz de conta que não
nota...
Se enlouqueço, você me devolve a razão...
Isso se chama compaixão.
Nos dias em que as horas passam lentas, sem graça e sem luz, nos
seus braços eu encontro alento.
Quando os dias alegres de verão partem e em seu lugar chega o
outono, cobrindo o chão com folhas secas, e o verde exuberante cede
lugar ao cinza, nos seus braços encontro harmonia.
Isso se chama aconchego.
Quando você está longe, no espelho da saudade eu vejo refletida a
certeza do reencontro.
Nas noites sem estrelas, quando a escuridão envolve tudo em seu
manto negro, você me aponta a carruagem da madrugada, que vem
despertar o dia com suas carícias de luz...
Isso se chama esperança.
Quando as marés dos problemas parecem tragar em suas ondas as minhas
forças, em seus braços encontro reconforto.
Se as amarguras pairam sobre meus dias, trazendo desgosto e dor, sua
presença me traz tranquilidade.
Você é um raio de sol, nos dias escuros...
É ave graciosa que enfeita a amplidão azul...
Você é alma e é coração.
É poema e é canção...
É ternura e dedicação...
Nada impõe, tudo compreende, tudo perdoa...
Sua companhia é doce melodia, é convite a viver...
... E tudo isso se chama amor!
Surge depois que as nuvens ilusórias da paixão se desvanecem.
Que a alma se mostra nua, sem enfeites, sem fantasias, sem
máscaras...
Enfim, o amor é esse sentimento que brota todos os dias, como a flor
que explode de um botão, ao mais sutil beijo do sol...
Isso, sim, se chama amor...
/Redação do Momento Espírita./
/Disponível no CD Momento Espírita, v. 10, ed. Fep./
/Em 21.07.2011./

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sábado, 16 de julho de 2011

Os pais na janela
Márcio Seidenberg

Como um estandarte, o professor Claudio Moura Castro tem iniciado suas palestras sobre a contribuição familiar na educação com a imagem de uma senhora coreana de cabelos grisalhos diante de uma janela. Ele explica que a mulher está do lado de fora da escola espiando o que se passa dentro da sala de aula porque quer verificar se os netos estão concentrados e prestando atenção ao professor ou, em seu linguajar mineiro, “olhando para a mosca”. 

Esta é uma obsessão das vovós daquele país que revela, talvez de forma exagerada para os nossos parâmetros e a nossa cultura, a crença de que a educação é o alicerce para o sucesso das crianças. “Fala-se do milagre coreano, mas pouco do esforço das famílias”, escreveu Castro em artigo sobre a atitude das avós asiáticas. Já o comportamento dos pais brasileiros – eles têm em média sete anos a menos de estudo do que os filhos –, em sua avaliação, é lastimável em todas as classes sociais. A ausência no acompanhamento do dever de casa, a postura passiva em relação à escola e a falta de diálogo dentro do lar ajudam a explicar o desempenho reprovável da educação. 

Por considerar a importância da família, Castro, formado em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais, com mestrado pela Universidade de Yale e doutorado pela Universidade de Vanderbilt, nos Estados Unidos, vem “pregando” esse discurso em suas conferências e converteu, num manual de instruções, procedimentos adequados para os pais. Do Ph.D. ao sem instrução, todos podem fazer a lição de casa. Alguns são deveres prosaicos, estratégias de simples execução, a custo zero e que se baseiam em algo primordial da relação familiar: a predisposição permanente dos pais em desejar e querer o bem dos filhos. 

Nesta entrevista, Claudio Moura Castro comenta o grande salto educacional das cidades de médio porte e reitera a atitude e o envolvimento contínuo da família como uma célula central que permeia todo o processo de aprendizagem dos filhos. Ele afirma que a educação brasileira precisa mesmo é de uma revolução e sobre a dificuldade dos pais em conseguir tempo para acompanhar a vida escolar dos filhos, é incisivo e contundente: “sempre há tempo para o que é importante.” 

Gestão Educacional: O desenvolvimento da educação rende uma discussão muito ampla e, em suas palestras, o senhor reitera a importância da parceria dos pais nesse objetivo, vem advogando o papel da família... 

Claudio de Moura Castro:É um lado da equação. É como uma tesoura: uma perna só não corta. A família e a escola têm que trabalhar em comum acordo, cada uma fazendo o seu serviço. É que na família (a contribuição) tem custo zero. No caso do professor, é preciso reunir condições para mantê-lo motivado: bom salário, prêmios. Para melhorar a escola, é necessário contratar mais e melhores professores, ter mais material, ou seja, mais esforço, mais insistência. Tudo é morro acima. Na família, você não precisa dizer ao pai: “queira bem ao seu filho, ajude-o a ter uma vida melhor”. Os pais estão permanentemente motivados a querer o melhor para o seu filho. Se dermos a eles instrumentos para fazer o certo, o resultado sai de graça, (é uma ação que) não custa recursos à sociedade. Se os pais entenderem, acreditarem e praticarem, teremos uma melhoria na educação. 

Gestão Educacional: Sobre esse conjunto de práticas, é como se os pais tivessem que voltar para a escola... 

Castro:Na Coreia e no Japão, a mãe está voltando para a escola. Os imigrantes japoneses que vieram para o Brasil eram analfabetos. Não tinha nem escola para ir. De qualquer forma, (para contribuir com o desenvolvimento escolar do filho), se um pai tem Ph.D. em educação, ajuda. Mas, se ele é analfabeto, e fica enchendo o saco do menino para estudar, também ajuda. 

Gestão Educacional: Como o pai sem formação pode apoiar? 

Castro:Os fatores mais determinantes são falar com a criança e vigiar o dever para casa. Fiz uma pesquisa com escolas brasileiras associadas de rede (de classe média, classe média baixa e alta) e descobri que (essas ações) homogeinizam o aluno e, dentro desse panorama, os filhos cujos pais vigiam o dever de casa são os que melhor se saem na escola. 

Gestão Educacional: O senhor acredita que há diferenças em como pais pobres e ricos veem a escola? 

Castro: Com certeza. O pobre é intimidado pela escola, não sabe cobrar, não sabe ajudar, não percebe a diferença de qualidade da educação. Já os ricos sabem o que fazer, podem estimular de todas as maneiras possíveis o desempenho escolar. Isso, claro, varia a cada cultura. Por exemplo, os judeus de classe média alta dos Estados Unidos exercem uma pressão brutal sobre as crianças para que rendam. Por outro lado, os pais de classe baixa dos Estados Unidos, formada por latinos e hispânicos, não se preocupam. O resultado é que a diferença de rendimento é absurda. 

Gestão Educacional: E a classe média? O senhor afirma que ela não dá exemplos de interesse e de participação. 

Castro: Claro que muito mais do que a classe baixa. Mas, comparativamente aos padrões internacionais, é muito ausente. 

Gestão Eduacional: De acordo com a pesquisa “A participação dos pais na educação de seus filhos”, realizada pelo IBOPE em 2005, 40% dos pais dizem não ter tempo para acompanhar a vida escolar dos filhos. Parece indicar indiferença ou uma dificuldade real? 

Castro: Começa com a mesma percepção equivocada de que não há um problema sério de qualidade na educação da classe média. O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) mostra que a classe alta brasileira obtém resultados piores do que os filhos de operários da Europa. Dizer que não tem tempo é o mesmo que dizer que não considera importante. Para o importante, sempre há tempo. 

Gestão Educacional: Falando sobre a outra ponta da tesoura, a escola, como ela pode contribuir para a melhoria do desempenho dos alunos? 

Castro:A escola tem um currículo, mas deveria fazer o que se chama de redução sociológica. Olhar aquele mundão de coisas e pensar: “o que é importante?” Na prática, ensinar a ler, a escrever, a falar, a ouvir e a resolver problemas que envolvem números. Não interessam os teoremas disso e daquilo. O importante são os fundamentos da educação, e não se iludir com as lantejoulas. É aprender a manejar a sua língua, porque isso significa ter a ferramenta para poder aprender pelo resto da vida. A consequência da educação é tornar o aluno mais educável. Você se torna capaz de se educar cada vez mais rápido. 

Gestão Educacional: O senhor disse já ter apresentado em escolas a palestra “A vóvó na janela” para pais de alunos. Qual foi o resultado deste trabalho? 

Castro:Os pais que comparecem são os motivados. Então estou pregando para os convertidos. Mas o desafio são os que não vão. Esse realmente é o problema. 

Gestão Educacional: Como avançar? Qual o papel da escola nessa aproximação? 

Castro: Água mole em pedra dura... (risos). No fundo, não tem solução mágica. A escola tem que seduzir os pais, precisa trazê-los para perto dela, conquistá-los com atividades atraentes, então os pais serão sócios da escola para mostrar bons resultados. 

Gestão Educacional: Um dos pilares da reforma do ensino de Nova York, iniciada em 2002, foi a criação de uma posição de coordenador de pais em cada uma das escolas públicas da cidade. Ele exerce a função de intermediário entre o ambiente escolar e a família. O senhor defenderia um programa com este perfil para as escolas públicas brasileiras? 

Castro: É possível, sim. Não parece má ideia. Mas, como todas as iniciativas nessa direção, há muitas maneiras de se chegar ao mesmo resultado. É questão de experimentar e ver o que dá mais certo. 

Gestão Educacional: Pelas suas andanças pelo Brasil, quais boas práticas tem observado nas escolas? 

Castro: O que está acontecendo é a revolução das escolas nas cidades de médio e pequeno portes. Há municípios que estão conseguindo fazer uma grande mudança na educação. Dentre aquelas 33 escolas que o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apontou que renderam mais (na primeira edição do estudo Aprova Brasil, em 2006), uma fica em São Brás do Suaçuí (MG), entre Lafaiete e São João del Rey. Com 5 mil habitantes. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) é semelhante ao da Europa. Lá não tem indústria. Não tem comércio, só um bocadinho. 

Gestão Educacional: E quando nos aproximamos das escolas das grandes cidades? 

Castro:Em São Paulo, de um lado tem o Bandeirantes, o São Luís; de outro, a favela, que puxa a média para baixo. O problema da favela não é de educação, é de guerra civil. Como falar em educação se as pessoas estão preocupadas em levar uma bala perdida? É o que acontece nas favelas do Rio. É uma praça de guerra e, enquanto não pacificar, a educação vai ficar em segundo plano. Não adianta consertar apenas a educação ali, é preciso transformar tudo. 

Gestão Educacional: Mas qual a função da educação no enfrentamento da pobreza e da condição de vida precária? Quais experiências de transformação social por meio da educação o senhor destacaria? 

Castro: Há experiências interessantes de usar a escola para puxar a comunidade toda para cima. Nova York tem experimentos interessantes nesta linha. Mas, como regra geral, diria que, para a escola, sozinha, tentar se erguer em uma região conflagrada é muito difícil e sem sentido. Se há vontade de melhorar a comunidade, por que esperar que a escola faça todo o serviço? Faz mais sentido planejar ações com múltiplos alcances, envolvendo educação, emprego, assistência social e esportes. 

Gestão Educacional: O senhor afirmou em entrevistas que a educação brasileira não está em crise, que nós precisaríamos provocar essa crise. Como? 

Castro: Eu não tenho uma fórmula. Sei que é falando, insistindo e apresentando dados quantitativos e qualitativos. Uma coisa é dizer que a educação vai mal. Outra é dizer que o Brasil é o último no ranking do Pisa. Ou ainda: no quarto ano, metade dos alunos não está alfabetizada no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Estes números é que têm potência de fogo para mostrar que a educação está ruim. São eles que precisam ser repetidos. 

Gestão Educacional: Vi professores saindo entusiasmados da sua palestra. Tornou-se um “legado” tentar passar para os pais a importância de estarem dentro do universo da escola? 

Castro: É um trabalho que tem uma rentabilidade muito grande no sentido de que custa convencer os pais, mas o processo depois que se criou o vínculo não tem custo. Só retorno. O pai não terá que gastar mais. Talvez comprar livros, revistas. É mais a atitude. 

Gestão Educacional: O senhor vem repetindo o discurso da vovó na janela desde 2004, há muito tempo... 

Castro: Muito tempo mesmo. Essas coisas captam o espírito. Como as caricaturas, que realçam o exagero daquelas características do indivíduo que já são exageradas. A vovó na janela! É um absurdo, é impensável aqui botar uma velha na janela para ver se o menino está prestando atenção ou se tá olhando para a mosca. São osslogans. Esse pegou e é bom. 

terça-feira, 5 de julho de 2011

Ser transparente

Às vezes, nos perguntamos por que é tão difícil ser transparente.
Costumamos acreditar que ser transparente é simplesmente ser sincero
e não enganar os outros. No entanto, é muito mais do que isso.
É ter coragem de se expor, de ser frágil, de chorar, de falar do
que sentimos. É desnudar a alma, deixar cair as máscaras e baixar
as armas.
É destruir os imensos e grossos muros que insistimos tanto em
levantar e permitir que toda a nossa doçura aflore, desabroche e
transborde.
Infelizmente, quase sempre, a maioria de nós decide não correr esse
risco. Preferimos a dureza da razão à leveza que exporia toda a
fragilidade humana.
Preferimos o nó na garganta às lágrimas que brotam da profundeza
do nosso ser.
Preferimos nos perder na busca insensata por respostas imediatas a
simplesmente nos entregar diante de Deus e admitir que não sabemos
todas as respostas, que somos frágeis, que temos medo.
Por mais doloroso que seja construir uma máscara que nos distancia
cada vez mais do que realmente somos e de Deus, preferimos manter uma
imagem que nos dê a sensação de proteção.
E vamos nos afogando mais e mais em atitudes, palavras e sentimentos
que não condizem com o nosso verdadeiro eu.
Não porque sejamos pessoas falsas, mas porque nos perdemos de nós
mesmos e já não sabemos onde está nossa brandura, nosso amor mais
intenso.
Com o passar dos anos, um vazio escuro nos faz perceber que já não
sabemos oferecer e nem pedir aos que nos cercam o que de mais
precioso temos a compartilhar: a doçura, a compaixão e a
compreensão.
Muitas vezes sofremos e nos sentimos sós, imensamente tristes e
choramos sozinhos, num silêncio que nos remete à saudade de nós
mesmos.
Saudade daquilo que pulsa e grita dentro de nós e que não temos
coragem de mostrar àqueles que nos querem bem e que nos amam.
Aprendemos que nos mostrar com transparência é sinal de fraqueza,
é ser menos do que o outro. Na verdade, se agíssemos deixando que a
nossa razão ouvisse o nosso coração, poderíamos evitar muita dor.
* * *
Quando formos surpreendidos pelo sofrimento de qualquer natureza,
lembremos primeiramente de Deus, Pai amoroso, que nunca desampara um
filho Seu. Fortaleçamo-nos na prece e na fé que conforta e acalma.
Ao partilhar as dores com os nossos afetos, tenhamos a certeza que
elas serão abrandadas, pois dividir as angústias, medos e
aflições, as torna menores.
Quando partilharmos as alegrias, estaremos fazendo felizes também
aqueles a quem estimamos, pois a alegria dos amigos é nossa também.
Expor a nossa fragilidade aos amigos e amores jamais será sinal de
fraqueza.
Procuremos, pois, de forma equilibrada, não prender tanto o choro,
não conter a demonstração da alegria, não esconder tanto o nosso
medo e nossas aflições. Enfim, abandonemos essa ideia de desejarmos
parecer tão invencíveis.

/Redação do Momento Espírita, com base em texto de autoria
desconhecida./
/Em 05.07.2011./